Seu valor é inegociável: autoestima e saúde mental na visão humanista
PSICOLOGIA HUMANISTA
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PONTOS-CHAVE
A autoestima, na visão humanista, é a avaliação subjetiva do próprio valor e competência, fundamental para a saúde mental.
Rollo May conecta a autoestima à coragem de ser autêntico, de viver alinhado aos próprios valores, mesmo diante da ansiedade existencial.
Nathaniel Branden define a autoestima com base na autoeficácia (confiança na capacidade de lidar com a vida) e no autorrespeito (senso de merecimento de felicidade).
Uma autoimagem positiva, nutrida pela autenticidade e pelas práticas dos "Seis Pilares" de Branden, atua como um pilar para a resiliência e o bem-estar.
Cultivar a autoestima envolve práticas conscientes como autoaceitação, responsabilidade pessoal, assertividade, viver com propósito e integridade.
O espelho interior e o valor que não se mede
Como você se vê? Qual o valor que atribui a si mesmo, independentemente das opiniões alheias ou das conquistas externas? Essas perguntas tocam no cerne da autoestima, um conceito vital explorado profundamente pela psicologia humanista. Longe de ser mera vaidade ou um otimismo superficial, a autoestima, nessa perspectiva, é a fundação sobre a qual construímos nossa saúde mental, nossa resiliência e nossa capacidade de viver uma vida autêntica e significativa. A afirmação "Seu valor é inegociável" não é apenas um mantra positivo, mas um reflexo da convicção humanista no valor intrínseco de cada ser humano.
Pensadores como Rollo May, um dos expoentes da psicologia existencial-humanista, e Nathaniel Branden, que dedicou sua carreira ao estudo da autoestima, ofereceram insights cruciais sobre essa dimensão essencial da experiência humana. May nos desafiou a encontrar a autoestima na coragem de sermos nós mesmos, de afirmarmos nossa existência e nossos valores mesmo diante da ansiedade inerente à liberdade. Branden, por sua vez, dissecou a autoestima em componentes práticos, como a confiança em nossa capacidade de pensar e enfrentar os desafios da vida (autoeficácia) e a convicção de que somos dignos de felicidade e respeito (autorrespeito).
Este artigo mergulha na rica compreensão humanista da autoestima e sua conexão indissociável com a saúde mental. Exploraremos como uma autoimagem positiva, construída sobre a autenticidade e a prática consciente de princípios como autoaceitação e responsabilidade, funciona como um escudo protetor contra a adversidade e um motor para o crescimento. Descobriremos, através das lentes de May e Branden, que fortalecer a autoestima não é um ato de egoísmo, mas um investimento essencial em nosso bem-estar e em nossa capacidade de florescer como seres humanos completos.
A Coragem de Ser: autoestima e autenticidade em Rollo May
Rollo May, profundamente influenciado pelo existencialismo, via a autoestima não como um estado passivo de contentamento, mas como um ato de coragem – a coragem de afirmar o próprio ser em um mundo muitas vezes indiferente ou hostil. Para ele, a autoestima está intrinsecamente ligada à autenticidade e à capacidade de enfrentar a ansiedade existencial.
Autenticidade como Fonte de Valor: May argumentava que a verdadeira autoestima emerge quando ousamos viver de acordo com nossos próprios valores, sentimentos e convicções, em vez de nos conformarmos passivamente às expectativas externas ou nos escondermos atrás de máscaras sociais. Ser autêntico significa assumir a responsabilidade por nossas escolhas e pela criação de significado em nossas vidas. Essa congruência entre o eu interior e a ação no mundo gera um senso de integridade e valor próprio que não depende de validação externa.
Ansiedade Existencial e a Afirmação do Eu: May não via a ansiedade como algo a ser eliminado, mas como parte inerente da condição humana, ligada à nossa consciência da liberdade, da finitude e da responsabilidade. A ansiedade "normal" ou existencial surge quando confrontamos essas realidades e ousamos crescer, mudar ou afirmar nossa individualidade. A autoestima, nesse contexto, não é a ausência de ansiedade, mas a capacidade de enfrentá-la e continuar afirmando o próprio ser. A pessoa com autoestima saudável reconhece a ansiedade, mas não se deixa paralisar por ela; usa-a como um sinal para a necessidade de fazer escolhas autênticas.
O Poder e a Intencionalidade: May também enfatizava a importância do senso de poder pessoal – não no sentido de dominação sobre os outros, mas como a capacidade de causar um impacto no mundo, de fazer a diferença, de ser um agente ativo na própria vida. A autoestima está ligada a esse senso de potência, à crença de que nossas intenções e ações importam. Quando nos sentimos impotentes ou incapazes de influenciar nosso destino, nossa autoestima tende a diminuir.
Os Pilares da Autoestima: a visão prática de Nathaniel Branden
Nathaniel Branden ofereceu uma das análises mais detalhadas e práticas sobre a autoestima, definindo-a como "a disposição para experimentar a si mesmo como competente para lidar com os desafios básicos da vida e como merecedor de felicidade". Ele identificou dois componentes essenciais e seis práticas (ou "pilares") que a sustentam:
Componentes Essenciais:
Autoeficácia: A confiança em nossa capacidade de pensar, aprender, escolher e tomar decisões apropriadas; a sensação de controle sobre a própria mente e a capacidade de entender e lidar com os fatos da realidade.
Autorrespeito: A certeza do nosso valor; uma atitude afirmativa em relação ao nosso direito de viver e ser feliz; o conforto em expressar apropriadamente nossos pensamentos, desejos e necessidades.
Os Seis Pilares da Autoestima (Práticas): Branden argumentava que a autoestima não é algo que simplesmente temos, mas algo que fazemos. Ela é o resultado de praticar consistentemente certos comportamentos e atitudes mentais:
A Prática de Viver Conscientemente: Estar presente naquilo que fazemos enquanto o fazemos; buscar compreender o mundo ao nosso redor e nosso mundo interior; estar aberto a novas informações e disposto a corrigir nossas crenças.
A Prática da Autoaceitação: Aceitar nossos pensamentos, sentimentos e ações sem negação ou auto repúdio; ser amigo de si mesmo, mesmo diante de erros ou imperfeições; acolher todas as partes de nós mesmos.
A Prática da Autorresponsabilidade: Assumir a responsabilidade por nossas escolhas e ações, pela realização de nossos desejos, por nossa felicidade e por nossa autoestima. Reconhecer que somos a causa primária de nossos resultados.
A Prática da Autoafirmação: Honrar nossos desejos, necessidades e valores e buscar formas apropriadas de expressá-los; defender nossas convicções e a nós mesmos com respeito; tratar-nos como importantes.
A Prática de Viver Propositadamente: Identificar nossos objetivos de curto e longo prazo; formular planos de ação para alcançá-los; monitorar nosso comportamento para garantir que esteja alinhado com nossos propósitos; viver produtivamente.
A Prática da Integridade Pessoal: Viver em congruência entre nossos valores professados e nosso comportamento real; ser honesto, confiável e justo; manter nossas promessas e honrar nossos compromissos.
Para Branden, essas seis práticas são interdependentes e se reforçam mutuamente. Praticá-las consistentemente é o caminho para construir e manter uma autoestima saudável.
O Impacto na Saúde Mental: por que a autoestima importa?
Uma autoestima saudável, nutrida pela autenticidade (May) e pelas práticas conscientes (Branden), não é um luxo psicológico, mas um fator protetor crucial para a saúde mental:
Resiliência: Pessoas com autoestima mais elevada tendem a lidar melhor com adversidades, críticas e fracassos. Elas se recuperam mais rapidamente de contratempos porque seu senso de valor não está totalmente atrelado a resultados externos.
Redução da Ansiedade e Depressão: A baixa autoestima está frequentemente associada a níveis mais altos de ansiedade e depressão. Sentir-se inadequado ou sem valor pode levar a pensamentos negativos recorrentes, isolamento social e desesperança. Fortalecer a autoestima ajuda a construir uma base interna mais segura e positiva.
Relacionamentos Mais Saudáveis: A forma como nos vemos influencia diretamente como nos relacionamos com os outros. Uma autoestima saudável permite estabelecer limites adequados, comunicar necessidades de forma assertiva, escolher parceiros que nos respeitem e sair de relações tóxicas. A baixa autoestima, por outro lado, pode levar à dependência emocional, ao medo da rejeição e à tolerância a abusos.
Motivação e Realização: A confiança nas próprias capacidades (autoeficácia) e o senso de merecimento (autorrespeito) são combustíveis essenciais para a motivação. Pessoas com autoestima saudável tendem a estabelecer metas mais desafiadoras, a persistir diante de obstáculos e a alcançar mais em suas vidas pessoais e profissionais.
Bem-Estar Geral: Em última análise, a autoestima contribui para uma sensação geral de bem-estar, satisfação com a vida e felicidade. Sentir-se competente e digno permite desfrutar mais plenamente das experiências e enfrentar a vida com mais otimismo e confiança.
Cultivando Seu Valor Inegociável: estratégias humanistas
Fortalecer a autoestima é um processo ativo e contínuo. Inspirados em May e Branden, podemos adotar as seguintes práticas:
Pratique Viver Conscientemente: Preste atenção aos seus pensamentos, sentimentos e ações no momento presente. Questione suas crenças automáticas. Busque feedback e esteja aberto a aprender.
Abrace a Autoaceitação: Acolha todas as suas emoções, mesmo as desconfortáveis. Reconheça seus erros como oportunidades de aprendizado, não como provas de inadequação. Seja seu próprio aliado.
Assuma a Autorresponsabilidade: Reconheça seu papel em criar sua própria vida. Pare de culpar os outros ou as circunstâncias. Foque no que você pode fazer para mudar sua situação ou sua resposta a ela.
Exercite a Autoafirmação: Expresse suas opiniões, necessidades e sentimentos de forma respeitosa, mas clara. Estabeleça limites saudáveis. Diga "não" quando necessário. Defenda seus valores.
Viva com Propósito: Defina o que é importante para você. Estabeleça metas significativas e trabalhe consistentemente para alcançá-las. Use seu tempo e energia de forma intencional.
Aja com Integridade: Faça o que você diz que vai fazer. Seja honesto consigo mesmo e com os outros. Alinhe suas ações com seus valores mais profundos.
Desafie a Autocrítica: Identifique e questione pensamentos autodepreciativos. Substitua-os por afirmações mais realistas e compassivas. Lembre-se de suas qualidades e conquistas.
Busque Apoio: Se a baixa autoestima estiver impactando significativamente sua vida, considere buscar a ajuda de um terapeuta com orientação humanista. Ele pode oferecer um espaço seguro para explorar suas questões e desenvolver estratégias personalizadas.
Honrando seu direito de ser e florescer
A autoestima, na rica perspectiva da psicologia humanista, transcende a autoconfiança superficial. É a profunda convicção interna do nosso valor inegociável como seres humanos, manifestada na coragem de sermos autênticos (como nos lembra Rollo May) e na prática diária de vivermos conscientemente, com autoaceitação, responsabilidade, propósito e integridade (como detalhado por Nathaniel Branden). Uma autoimagem positiva, construída sobre esses pilares, não é apenas um sentimento agradável; é um componente essencial da saúde mental, um escudo contra as tempestades da vida e a chave para desbloquear nosso potencial.
Lembre-se: seu valor não depende de aprovação externa, de perfeição ou de conquistas materiais. Ele é inerente a você. Cultivar a autoestima é um ato de honrar esse valor, de reivindicar seu direito de viver plenamente e de buscar a felicidade. É uma jornada contínua, que exige consciência e prática, mas cujas recompensas – resiliência, relacionamentos mais saudáveis, maior realização e um profundo bem-estar – são inestimáveis. Que possamos todos abraçar essa jornada, reconhecendo e nutrindo o valor inegociável que reside em cada um de nós.
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